Flavio Morgenstern
Fonte: http://sensoincomum.org/2017/05/17/crime-ocultacao-patrimonio/
Antes de falar em "escritura" ou que o triplex é na verdade da OAS, explique ao amigo petista: o crime é de ocultação. Ocultação. Ocultação!
[...]
Na linguagem totalitária, tudo é exagerado (“fascistas! golpe! destroem nossos direitos!”), enquanto a vida real continua completamente normal. O falante de uma linguagem totalitária é hipersensibilizado e reage a qualquer palavra de imediato, sem formá-la em uma frase (que dirá um argumento lógico, um discurso multifacetado, uma investigação com idas e vindas) e já sai correndo ao abraço ou ao cadafalso a cada vocábulo proferido (“homofobia! machismo! racismo! nazismo!”).
Graças a esta doença da linguagem e ao ensino socio-construtivista de Paulo Freire e quejandos, petistas e aqueles encantados pelo canto da sereia do discurso “social” da esquerda estão com uma dificuldade brutal de entender o que está em jogo na investigação do triplex no Guarujá e no sítio de Atibaia, utilizados por Lula.
O crime investigado é o de ocultação de patrimônio. Ocultação. Não ostentação, em termos capazes de serem apreendidos até por leitores de Leonardo Sakamoto. É ocultação. O ato de ter um patrimônio e ocultá-lo.
Para a esquerda, tão viciada em falar de “sonegação” e tentar resolver todos os problemas do mundo aumentando impostos, tirando dinheiro do bolso do trabalhador e o transferindo para o controle de políticos (o que pode dar errado?), bastaria fazer uma analogia. Talvez reclamar que Lula não tem pagado os impostos ajudaria a deixar esquerdistas com os cabelos em pé.
É claro, é preciso manter tal informação tríplice fresca nas sinapses (Lula desfruta de um bem; o bem não é dele; ele oculta que desfruta do bem) e adicionar o componente que transfere o caso de mero problema com a tão amada Receita Federal para a esfera criminal: o patrimônio, ao que tudo indica, lhe foi dado como propina em troca da facilidade de contratos com o governo.
Correlato à ocultação de patrimônio, há o crime de lavagem de dinheiro.
Ora, é algo simples de entender: ao invés de dinheiro vivo, o que daria nas caras mesmo do partido mais profissional na lavagem de dinheiro, Lula recebia diretamente os bens milionários, sem precisar passar dinheiro por sua conta, o que faria com que a operação fosse percebida.
Assim, quando a defesa de Lula saca imediatamente a frase feita “Não há escritura em nome de Lula” para dizer que ele está ileso, está apenas jogando para a plateia de trouxas que sabem serem trouxas manipuláveis, tratando-os como imbecis: afinal, é tautológico que, num processo de ocultação de patrimônio, o patrimônio está oculto (se houvesse escritura, Lula dificilmente seria obrigado a mostrar como tem dinheiro para um triplex).
Juridicamente, é nulo: o juiz sabe muito bem. Para manipular uma militância que julgam ter a capacidade de raciocínio de uma planária, é uma aposta certa. Como Lula só não está preso pela comoção social, sua defesa sabe bem o que faz.
O mesmo se dá quando Lula garante que o triplex é da OAS. Pode facilitar a reação de quem pensa em uma única camada, de quem reage de pronto a qualquer palavra como uma mosca varejeira segue a direção de excrementos: juridicamente, ainda é o que a própria acusação está lhe dizendo. Ou quando blogs dizem que “não encontraram documentos provando que o triplex é de Lula” (o mesmo que precisar haver “documentos” provando que o dinheiro na Suíça é de Eduardo Cunha).
[...]
A confissão é a rainha de todas as provas – confessio regina probationum est, já sabiam os romanos. Se os indícios apontam para diversas reuniões que Lula não consegue explicar, documentos atestam que o triplex era um “presentinho” pelo qual ele nunca iria pagar (afinal, estavam praticando ocultação de patrimônio), há confissões e mais confissões que apenas complicam a vida dos confessores e a defesa Lula só sabe repetir que o triplex era na verdade da OAS e que não há nenhuma escritura com assinatura de Lula (mas há documentos em seu apartamento relativos à pequena gorjeta de três andares), quem ainda é trouxa de acreditar numa defesa repetindo flatus vocis, palavras vazias, para tontos repetirem asnaticamente?
Nenhum comentário:
Postar um comentário