22 fevereiro, 2013

Os patrulheiros movidos a tubaína, mortadela e dez reais mostraram como funciona o controle social da mídia

Direto ao Ponto
por Augusto Nunes

Convocadas por stalinistas farofeiros do PT e revolucionários mequetrefes do PCdoB, patrulhas movidas a tubaína, mortadela e dez reais mostraram, no primeiro dia da visita de Yoani Sánchez, como funciona o “controle social da mídia”. Quem tem mais de três neurônios e alguma vergonha na cara sabe que a expressão recitada por órfãos do Muro de Berlim é mais um codinome da velha e sórdida censura. Mas não há limites para o cinismo: o companheiro Rui Falcão, campeão mundial de piscadas por minuto, não perde nenhuma chance de jurar que se trata da única fórmula capaz de garantir a liberdade de imprensa.

Conversa de comunista que não ousa confessar o que é, constata o comentário de 1 minuto para o site de VEJA. Os manifestantes alugados para hostilizar a blogueira cubana obedeceram disciplinadamente aos mandamentos que orientam as tarefas de um controlador sociail da mídia. Um deles determina que só pode dizer o que pensa quem concorda com o partido no poder (ou com governantes amigos, caso o alvo do controle seja estrangeiro). Quem não aceita dizer amém o tempo deve exercer o sagrado e inalienável direito de calar a boca.

15 fevereiro, 2013

Esse tal de funk

Carlos Guimarães Coelho Jornalista e produtor cultural

Mesmo esforçando para não ter preconceitos, eles acabam surgindo como uma necessidade. E mesmo a música sendo a expressão máxima de um território onde imperam a diversidade e a tolerância, difícil é ver algo como o funk, que incita a violência e a inconsciente sexualidade, ganhar espaços cada vez mais nobres, embora rotulado por muitos como um foco de resistência das classes menos favorecidas.

Mesmo que manifestar publicamente o olhar preconceituoso cause a indignação de muitos, difícil é perceber tais estranhos hábitos e ficar inerte a eles, quando representam um dano à coletividade. É assim que o vejo, até prova em contrário, como danoso e inconsequente a toda uma geração. Um gênero que deixa aos adolescentes, além da limitada opção entre ser voyeur ou exibicionista, um sentimento de agressividade e desrespeito ao sexo oposto.

Tudo bem que a musicalidade seja, sobretudo para pessoas jovens, a manifestação de vitalidade. Mas, junto ao vigor inerente à juventude, música é forma amena de enxergar a vida, mesmo com estrondosos acordes. De forma saudável, o rock conseguiu – e ainda consegue – canalizar toda essa energia contestadora sem comprometer a harmonia da existência.
É surpreendente como a população, boa parte do tempo, é canal aberto a todo esse lixo depositado pela indústria fonográfica. Ao ponto de permiti-lo entrar em suas casas com generosas boas vindas, expondo-o até mesmo em festinhas familiares, as infantis inclusive.

Me lembro, há algumas décadas, de torcer o nariz para a “dancinha da boca da garrafa”, quando pais eufóricos, crentes de que estavam diante de um talento artístico, incentivavam suas crianças a realizá-la. O resultado se viu depois: eroticidade precoce em boa parte delas e muitas adolescentes também precocemente grávidas.

Não dá para culpar só a música pelos desvios de conduta e escorregões dos adolescentes. É apenas um complemento de uma educação que pode ser boa ou ruim. Como produtor cultural, acho o máximo de responsabilidade familiar quando pais desejam levar filhos aos espetáculos. Ao dizer que, mesmo não existindo a censura talvez as crianças não entendessem a peça ou o show em cartaz, a resposta mais comum era sobre o desejo que elas estivessem naquele ambiente e convivessem desde muito cedo com manifestações artísticas.

Isso, a meu ver, é comprometimento real com o futuro dos filhos, com o desejo de vê-los enxergando a diversidade do mundo, com a formação do caráter e com o despertar de um senso crítico que os posicionem na vida de forma coerente e com personalidade. Um caminho oposto àquele que o funk realiza.

Vou-me embora pra Bruzundanga

Marco Antonio Villa 
veja.com

O Brasil é um país fantástico. Nulidades são transformadas em gênios da noite para o dia. Uma eficaz máquina de propaganda faz milagres. Temos ao longo da nossa História diversos exemplos. O mais recente é Dilma Rousseff.

Surgiu no mundo político brasileiro há uma década. Durante o regime militar militou em grupos de luta armada, mas não se destacou entre as lideranças. Fez política no Rio Grande do Sul exercendo funções pouco expressivas. Tentou fazer pós-graduação em Economia na Unicamp, mas acabou fracassando, não conseguiu sequer fazer um simples exame de qualificação de mestrado. Mesmo assim, durante anos foi apresentada como “doutora” em Economia. Quis-se aventurar no mundo de negócios, mas também malogrou. Abriu em Porto Alegre uma lojinha de mercadorias populares, conhecidas como “de 1,99″. Não deu certo. Teve logo de fechar as portas.

Caminharia para a obscuridade se vivesse num país politicamente sério. Porém, para sorte dela, nasceu no Brasil. E depois de tantos fracassos acabou premiada: virou ministra de Minas e Energia. Lula disse que ficou impressionado porque numa reunião ela compareceu munida de um laptop. Ainda mais: apresentou um enorme volume de dados que, apesar de incompreensíveis, impressionaram favoravelmente o presidente eleito.

Foi nesse cenário, digno de O Homem que Sabia Javanês, que Dilma passou pouco mais de dois anos no Ministério de Minas e Energia. Deixou como marca um absoluto vazio. Nada fez digno de registro. Mas novamente foi promovida. Chegou à chefia da Casa Civil após a queda de José Dirceu, abatido pelo escândalo do mensalão. Cabe novamente a pergunta: por quê? Para o projeto continuísta do PT a figura anódina de Dilma Rousseff caiu como uma luva. Mesmo não deixando em um quinquênio uma marca administrativa ─ um projeto, uma ideia ─, foi alçada a sucessora de Lula.

Nesse momento, quando foi definida como a futura ocupante da cadeira presidencial, é que foi desenhado o figurino de gestora eficiente, de profunda conhecedora de economia e do Brasil, de uma técnica exemplar, durona, implacável e desinteressada de política. Como deveria ser uma presidente ─ a primeira ─ no imaginário popular.

Deve ser reconhecido que os petistas são eficientes. A tarefa foi dura, muito dura. Dilma passou por uma cirurgia plástica, considerada essencial para, como disseram à época, dar um ar mais sereno e simpático à então candidata. Foi transformada em “mãe do PAC”. Acompanhou Lula por todo o País. Para ela ─ e só para ela ─ a campanha eleitoral começou em 2008. Cada ato do governo foi motivo para um evento público, sempre transformado em comício e com ampla cobertura da imprensa. Seu criador foi apresentando homeopaticamente as qualidades da criatura ao eleitorado. Mas a enorme dificuldade de comunicação de Dilma acabou obrigando o criador a ser o seu tradutor, falando em nome dela ─ e violando abertamente a legislação eleitoral.

Com base numa ampla aliança eleitoral e no uso descarado da máquina governamental, venceu a eleição. Foi recebida com enorme boa vontade pela imprensa. A fábula da gestora eficiente, da administradora cuidadosa e da chefe implacável durante meses foi sendo repetida. Seu figurino recebeu o reforço, mais que necessário, de combatente da corrupção. Também, pudera: não há na História republicana nenhum caso de um presidente que em dois anos de mandato tenha sido obrigado a demitir tantos ministros acusados de atos lesivos ao interesse público.

Com o esgotamento do modelo de desenvolvimento criado no final do século 20 e um quadro econômico internacional extremamente complexo, a presidente teve de começar a viver no mundo real. E aí a figuração começou a mostrar suas fraquezas. O crescimento do produto interno bruto (PIB) de 7,5% de 2010, que foi um componente importante para a vitória eleitoral, logo não passou de uma recordação. Independentemente da ilusão do índice (em 2009 o crescimento foi negativo: -0,7%), apesar de todos os artifícios utilizados, em 2011 o crescimento foi de apenas 2,7%. Mas para piorar, tudo indica que em 2012 não tenha passado de 1%. Foi o pior biênio dos tempos contemporâneos, só ficando à frente, na América do Sul, do Paraguai. A desindustrialização aprofundou-se de tal forma que em 2012 o setor cresceu negativamente: -2,1%. O saldo da balança comercial caiu 35% em relação à 2011, o pior desempenho dos últimos dez anos, e em janeiro deste ano teve o maior saldo negativo em 24 anos. A inflação dá claros sinais de que está fugindo do controle. E a dívida pública federal disparou: chegou a R$ 2 trilhões.

As promessas eleitorais de 2010 nunca se materializaram. Os milhares de creches desmancharam-se no ar. O programa habitacional ficou notabilizado por acusações de corrupção. As obras de infraestrutura estão atrasadas e superfaturadas. Os bancos e empresas estatais transformaram-se em meros instrumentos políticos ─ a Petrobrás é a mais afetada pelo desvario dilmista.

Não há contabilidade criativa suficiente para esconder o óbvio: o governo Dilma Rousseff é um fracasso. E pusilânime: abre o baú e recoloca velhas propostas como novos instrumentos de política econômica. É uma confissão de que não consegue pensar com originalidade. Nesse ritmo, logo veremos o ministro Guido Mantega anunciar uma grande novidade para combater o aumento dos preços dos alimentos: a criação da Sunab.

Ah, o Brasil ainda vai cumprir seu ideal: ser uma grande Bruzundanga. Lá, na cruel ironia de Lima Barreto, a Constituição estabelecia que o presidente “devia unicamente saber ler e escrever; que nunca tivesse mostrado ou procurado mostrar que tinha alguma inteligência; que não tivesse vontade própria; que fosse, enfim, de uma mediocridade total”.

A regra é clara


14 fevereiro, 2013

Saldo da Semana

De Cora Ronai

Gosto muito de carnaval. Posso me dar a esse luxo porque a Lagoa, onde moro, tem sido misericordiosamente poupada pela folia. Mas cada vez encontro mais gente com horror à festa, e por justa causa: morar em ruas de passagem dos grandes blocos é castigo que ninguém merece. Ouvi histórias preocupantes: gente que passou a semana praticamente toda sem poder entrar ou sair de casa; gente que foi obrigada a deixar de usar a sala por causa do fedor nauseabundo que vinha da rua; gente que assistiu da janela, impotente, à horda que estraçalhou os seus jardins e fez a entrada dos seus prédios de latrina.

Os funcionários do Zona Sul do Leblon descreveram a passagem de um bloco como uma praga de gafanhotos: vândalos roubando mercadorias, comendo tudo o que estava exposto, quebrando o banheiro. Quando o gerente proibiu o seu uso pelos foliões, para que o banheiro não sofresse mais danos, houve quem ameaçasse urinar nas frutas.

A prefeitura não é responsável pela boçalidade dos integrantes dos blocos, mas ao permitir desfiles de milhares de pessoas não pode deixar de levar em consideração este fator "cultural". Não é justo jogar o ônus da festa na conta dos cidadãos e fazê-los reféns da absoluta falta de educação alheia; nem é possível ver uma cidade linda como a nossa transformada nesse mix de esgoto e lixão. Desde quando alegria tem que ser sinônimo de vandalismo e imundície?

(O Globo, Segundo Caderno, 14.2.2013)


12 fevereiro, 2013

Bom Jesus, Carnaval 2013 - A cara do deboche

Abaixo o meu desabafo por ter presenciado várias brigas durante o carnaval, e por quase ter sido atingido (eu, minha esposa Carla e meus amigos Raul Travassos e Sônia Ribeiro) por garrafas quebradas em plena Praça Governador Portela.

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Como foi amplamente divulgado pela rádio, redes sociais e sites de notícias Bom Jesus do Itabapoana não teve carnaval oficial. A alegação é de que o valor economizado seria destinado à saúde.

Seria louvável se fosse verdade.

A verba supostamente destinada ao carnaval, se existisse, é infinitamente inferior à necessidade da saúde. A saúde não precisa de esmolas! Precisa de ação.

Seria digno, e perfeitamente explicável, se a prefeita ou o seu secretário de turismo (leia-se festas) tivessem dito apenas que não fariam um carnaval oficial, pois não há o que comemorar na cidade. O povo está triste. A cidade está triste. Seria como fazer uma festa com a mãe na U.T.I. Seria como promover um carnaval em frente a boate Kiss em Santa Maria. Fora de propósito. E só. Agora, vir com essa conversinha mole de que o dinheiro será dado para o hospital, é de uma maldade... de uma leviandade. É querer dar aos bom-jesuenses – mais uma vez – o rótulo de jegues, asnos.

O secretário não estava aqui – soube que estava pelas bandas de Manguinhos/ES. De Manguinhos diz-se que “os capixabas que se acham ricos frequentam Guarapari; os que são realmente ricos tem casa em Manguinhos”. E foi neste balneário abastado que nosso secretário de turismo (leia-se festas) Sávio Saboia foi se deleitar no carnaval deixando a cidade entregue às baratas.

Tivesse o secretário o cuidado mínimo que tinha (ou tem?) com suas festas particulares, não teríamos visto brigas, sujeira e desordem – como se viu no tríduo momesco.

Havia no palco (?) da Praça Governador Portela, uma música mecânica tocando funk! Funk secretário? Esse tipo de música (?) não é apropriada para o carnaval. Não é, e você sabe disso. Como não é apropriado marchinhas carnavalescas em bailes funks. O secretário poderia ter ido para onde bem entendesse – até para mais longe – mas deveria deixar um responsável e uma recomendação: o pouco que faremos será para as famílias que permaneceram aqui.

Nas poucas vezes que o (in)responsável pelo som resolveu colocar músicas de carnaval (sambas e marchinhas), os pais se aventuraram a uns passinhos, via-se um alívio nas expressões das pessoas, a maioria acompanhando as letras das músicas. É isso secretário! Simples não?

O carnaval é uma festa popular. Com o poder público querendo ou não – e neste caso dizendo não querer – as pessoas vão a rua para se divertir. Fantasiam seus filhos. Querem no mínimo uma foto como registro. O mínimo que se gastou deveria ter sido bem gasto.

Esses brigões e marginais que vem para a praça se exibir, não merecem que a prefeitura faça uma festa para eles. E é isso que vocês tem feito: festa para marginais. Você tem deixado o ambiente propício para esse tipo de manifestação (brigas). Se a música fosse marchinha, esses brigões ignóbeis não iriam gostar e iam “procurar sua turma” - e não ficar na praça fazendo o que deveriam fazer no ringue.

Está provado que existem músicas que relaxam, músicas que divertem e músicas que excitam. Ou a prefeita vai me dizer que quando vai fazer uma limpeza de pele pede para colocar um funk no último volume? Cada coisa em seu lugar. E a praça não é lugar de brigões ignóbeis. A praça é lugar das famílias, das crianças, das pipocas, da inocência.

Basta de festas para marginais! As famílias querem e merecem se divertir. Por que fazer festas para marginais? Qual a motivação disso? Não dá para entender...