15 fevereiro, 2013

Esse tal de funk

Carlos Guimarães Coelho Jornalista e produtor cultural

Mesmo esforçando para não ter preconceitos, eles acabam surgindo como uma necessidade. E mesmo a música sendo a expressão máxima de um território onde imperam a diversidade e a tolerância, difícil é ver algo como o funk, que incita a violência e a inconsciente sexualidade, ganhar espaços cada vez mais nobres, embora rotulado por muitos como um foco de resistência das classes menos favorecidas.

Mesmo que manifestar publicamente o olhar preconceituoso cause a indignação de muitos, difícil é perceber tais estranhos hábitos e ficar inerte a eles, quando representam um dano à coletividade. É assim que o vejo, até prova em contrário, como danoso e inconsequente a toda uma geração. Um gênero que deixa aos adolescentes, além da limitada opção entre ser voyeur ou exibicionista, um sentimento de agressividade e desrespeito ao sexo oposto.

Tudo bem que a musicalidade seja, sobretudo para pessoas jovens, a manifestação de vitalidade. Mas, junto ao vigor inerente à juventude, música é forma amena de enxergar a vida, mesmo com estrondosos acordes. De forma saudável, o rock conseguiu – e ainda consegue – canalizar toda essa energia contestadora sem comprometer a harmonia da existência.
É surpreendente como a população, boa parte do tempo, é canal aberto a todo esse lixo depositado pela indústria fonográfica. Ao ponto de permiti-lo entrar em suas casas com generosas boas vindas, expondo-o até mesmo em festinhas familiares, as infantis inclusive.

Me lembro, há algumas décadas, de torcer o nariz para a “dancinha da boca da garrafa”, quando pais eufóricos, crentes de que estavam diante de um talento artístico, incentivavam suas crianças a realizá-la. O resultado se viu depois: eroticidade precoce em boa parte delas e muitas adolescentes também precocemente grávidas.

Não dá para culpar só a música pelos desvios de conduta e escorregões dos adolescentes. É apenas um complemento de uma educação que pode ser boa ou ruim. Como produtor cultural, acho o máximo de responsabilidade familiar quando pais desejam levar filhos aos espetáculos. Ao dizer que, mesmo não existindo a censura talvez as crianças não entendessem a peça ou o show em cartaz, a resposta mais comum era sobre o desejo que elas estivessem naquele ambiente e convivessem desde muito cedo com manifestações artísticas.

Isso, a meu ver, é comprometimento real com o futuro dos filhos, com o desejo de vê-los enxergando a diversidade do mundo, com a formação do caráter e com o despertar de um senso crítico que os posicionem na vida de forma coerente e com personalidade. Um caminho oposto àquele que o funk realiza.

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