Gosto muito de carnaval. Posso me dar a esse luxo porque a Lagoa, onde moro, tem sido misericordiosamente poupada pela folia. Mas cada vez encontro mais gente com horror à festa, e por justa causa: morar em ruas de passagem dos grandes blocos é castigo que ninguém merece. Ouvi histórias preocupantes: gente que passou a semana praticamente toda sem poder entrar ou sair de casa; gente que foi obrigada a deixar de usar a sala por causa do fedor nauseabundo que vinha da rua; gente que assistiu da janela, impotente, à horda que estraçalhou os seus jardins e fez a entrada dos seus prédios de latrina.
Os funcionários do Zona Sul do Leblon descreveram a passagem de um bloco como uma praga de gafanhotos: vândalos roubando mercadorias, comendo tudo o que estava exposto, quebrando o banheiro. Quando o gerente proibiu o seu uso pelos foliões, para que o banheiro não sofresse mais danos, houve quem ameaçasse urinar nas frutas.
A prefeitura não é responsável pela boçalidade dos integrantes dos blocos, mas ao permitir desfiles de milhares de pessoas não pode deixar de levar em consideração este fator "cultural". Não é justo jogar o ônus da festa na conta dos cidadãos e fazê-los reféns da absoluta falta de educação alheia; nem é possível ver uma cidade linda como a nossa transformada nesse mix de esgoto e lixão. Desde quando alegria tem que ser sinônimo de vandalismo e imundície?
(O Globo, Segundo Caderno, 14.2.2013)
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