28 setembro, 2005

Ronald Golias e o Agente 86 II

Todo mundo escreveu sobre Golias e Adams hoje. Até a charge de O Globo foi sobre os dois. A coluna do Artur Xexéo também. Ao contrario de minha opinião Xexéo gostava do personagem de Golias. Confira:

"Ô, Cride! Fala pra mãe...

Até os meus 9 anos, nunca tinha visto televisão. Na verdade, acho que nem sabia o que era televisão. Era um eletrodoméstico que, definitivamente, não fazia falta lá em casa. Foi assim, até certa noite de sábado em que acompanhei meus pais numa visita a um casal de amigos. Tinha um aparelho de TV no meio da sala. Estava ligado. O casal se divertia com o programa “Praça da Alegria”, na TV Rio. Já estava acabando. Só faltava mais um quadro. O melhor ficava por último. Manoel de Nóbrega, o apresentador, recebe no banco da praça um comediante jovem, interpretando um garoto, de calças curtas, um boné enviesado na cabeça e uma profusão de caretas. Era engraçadíssimo.

A partir daí, a TV passou a ser um utensílio de primeira necessidade lá em casa. Como seguir em frente sem acompanhar, uma vez por semana, as piadas de Ronald Golias na “Praça da Alegria”? Foi Golias quem levou a televisão para minha casa.

Ele foi certamente o primeiro grande comediante da televisão. Até então, os cômicos vinham do rádio e do teatro de revistas. Muitos alcançaram projeção nacional transferindo-se para o cinema. Golias, que também começou no rádio, foi o primeiro a ficar nacionalmente conhecido por seu trabalho na TV. Esse personagem da praça era ingênuo, de piadas meio bobas. Mas fazia rir pela personalíssima expressão corporal do ator. Foi o primeiro de uma série de três que dominou o humor da TV nos anos 60.

Depois dele, veio o Bartolomeu Guimarães, um velho de barbas longas, cabelo comprido, túnica e cajado que dormia no meio das conversas e, quando acordado, falava coisas sem sentido. “A vida... o tudo... o caminhar...”, e, dobrando o dedo indicador direito diante da câmera, concluía: “... o gancho!”. Como se vê, uma bobagem. Nonsense total. Mas de fazer o espectador se dobrar de rir. Bartolomeu Guimarães era um dos personagens centrais de uma experiência única na televisão brasileira: uma telenovela humorística. Era ele quem mais fazia rir em “Ceará contra 007”, uma sátira aos filmes de espionagem daqueles tempos.

Mais para o fim da década, lançou no bem-sucedido “Família Trappo” o personagem que o acompanhou até a morte: o Bronco. Este tinha pouco da ingenuidade dos que o antecederam. Era malandro, golpista, não queria saber de trabalho, vivia encostado na casa da irmã, infernizando a vida do cunhado. “Família Trappo” acabou, mas Bronco continuou no ar. Ainda faz parte da programação do SBT como antagonista de Moacyr Franco no seriado “Meu cunhado”. O humor de Golias era quase infantil, talvez por iso agradasse tanto às crianças. ultimamente, o texto que recebia era pesado. Pelo menos, mais pesado do que os dos primeiros anos de vida de Bronco. Mas em Golias isso não pegava mal. Mais gozado do que o que ele dizia era a maneira com que ele dizia. A piada mais pesada acabava ganhando ares inocentes nas expressões de caretas infantis.

Golias pertenceu à época de ouro do humor na TV. Nos anos 60, eram os programas humorísticos que puxavam a audiência, assim como as novelas fazem hoje. Não era fácil se sobressair numa turma da qual faziam parte Chico Anysio, Jô Soares, Vagareza, Consuelo Leandro, Nancy Wanderley, Nair Bello, Renato Corte Real, Murilo Amorim Correa, Zilda Cardoso... Era preciso ser muito bom para alcançar o estrelato. Golias era.

***

Na mesma semana em que Golias se foi, morreu também outro ícone do humor dos anos 60: Don Adams, o protagonista de “Agente 86”, talvez o mais engraçado seriado cômico da TV americana de todos os tempos. Adams representava o agente secreto Maxwell Smart, o mais desastrado agente secreto de todos os tempos também. Adams, na verdade, chamava-se Donald Yarmy. Por causa deste Y no sobrenome, sempre era o último, ou um dos últimos, a ser chamado em testes de teatro ou cinema. Resolveu trocar de nome, então, e escolheu um que começasse com A. Passou a ser sempre o primeiro da lista. Em outras palavras, começou a carreira com uma piada.

Mas confesso que meu personagem preferido de “Agente 86” era a agente 99 vivida por Barbara Feldon. O que mais me encanta na biografia de Barbara é que ela participou, em 1957, de um programa de perguntas e respostas da TV americana, “A pergunta de US$ 64 mil”. Uma espécie de “O céu é o limite”, o programa ficou famoso por ter sido investigado por uma comissão parlamentar de inquérito do Congresso dos Estados Unidos depois de ser acusado por um dos participantes de ter o resultado manipulado pelos produtores. Essa história foi contada por Robert Redford em seu filme “Quiz show”.

Bem, não sei se Barbara estava incluída entre os que se beneficiaram da maracutaia. Mas ela ganhou o prêmio máximo do programa, os tais US$ 64 mil, respondendo sobre Shakespeare. Como se vê, não era só um rostinho bonito.

Barbara Feldon está com 73 anos e parece que passa bem. Não custa nada esclarecer."



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