26 agosto, 2014

Quem inventou que a imprensa há de ser imparcial?

Jan lievens Quem Inventou Que a Imprensa Há De Ser Imparcial?
Neste quadro do holandês Jan Lievens ( 1607-1674)
Pilatos num gesto de "imparcialidade" lava as mãos.
Cobra-se, e muito, a imparcialidade da Imprensa.

Gostaria eu de saber quem inventou o termo "imparcial" para o ofício da comunicação?

Até quando narramos a um amigo um simples acidente damos a nossa versão, a visão da nossa parte.

Imparcialidade. Um sofisma nascido talvez de alguma simulada mente que levou a mão a escrevê-lo, tornando-o ilusório axioma.

Na data de hoje nascia o primeiro jornal brasileiro : "Correio Braziliense", lançado em Londres pelo jornalista Hipólito da Costa que lá estava, exilado.

Exilado porque Hipólito defendia ideias liberais como a de uma monarquia constitucional e o fim da escravidão, dando ampla cobertura à Revolução Pernambucana de 1817 e aos acontecimentos de 1821 e de 1822 que conduziriam à Independência do Brasil.

Em um Brasil de 1808, ainda Reino Unido, não poderia pois tal fruto da prensa deixar de ser parcial na defesa da nossa independência e dos interesses econômicos e ideológicos aí em jogo.

Em contrapartida à influência do jornal a Coroa Portuguesa lançou em Londres um jornal "O Investigador Portuguêz em Londres". Ora pois, assim o tal "investigador portuguêz" já nascia parcializado a contrapor os valores do Reino.

O "Correio" continuou circulando de forma ininterrupta até a nossa Independência , em 1822, quando então deixou de existir, pois sua luta houvera conseguido seu objetivo.

Todos os jornais e periódicos lançados na Europa, do "Times" (em 1785) ao "Journal officiel de la République Française" , órgão governamental da Comuna de Paris (em 1871) , tinham seu lado, sua parte (parcial vem daí), seus ideais ( vem de "ideia") a defender, para isso eram criados. Não podiam, por origem do nascedouro, ser imparciais.

Na mesma data de hoje em 1902 era lançado em São Paulo o jornal anarquista "O Amigo do Povo". Ora, apregoando ser ele "amigo do povo" não haveria de ser um parcial porta-voz das elites.

Em 1911, também nesta mesma data de 01 de junho, era lançado em Santos "O Proletário" que pelo próprio nome de sua origem servia a uma classe, uma causa e a singulares opiniões, portanto não imparciais.

Nos dias de hoje até mesmo um "inocente" blog diário de uma colegial traz em si a sua parcialidade, pois será sempre a visão da sua autora sobre o mundo, sobre os fatos, sobre os gostos e os costumes.

Então não é de causar espanto a "parcialidade" de cada órgão de imprensa. Cada um foi criado exatamente para exprimir o interesse, pensamento e a visão de mundo de uma categoria, facção, ou segmento ideológico e econômico.

Deixemos pois de ingenuidade, ganhemos tempo, e vamos à frente com as nossas parcialidades, contrapondo-as a outras com as quais discordemos.

A mesma lógica que levou a Coroa Portuguesa a lançar o tal pasquim, com um título que na minha óptica parcializada pelo meu humor lembra-me mais uma piada que algo sério: "O Investigador Portuguêz".

Quem Inventou Que a Imprensa Há De Ser Imparcial? – Bemvindo Sequeira