31 dezembro, 2013

Muitos anos, velho

Vovô Zé, Vovó Landa, Mamãe, eu, Rodrigo e Luciene.
Estava aqui pensando em uma maneira de desejar um feliz ano novo a todos. Comecei a pensar em uma coisa que sempre me encantou: a contagem dos anos em séculos. Eu já sou do século passado. A primeira vez que isso me ocorreu eu ainda era uma criança. Foi quando meu bisavô Zé Lopes fez 80 anos em 1970 – ele nasceu em 10 de setembro de 1890.

Vovô Zé, como todos o chamavam, era um velho forte. Todo ano ele vinha do Recife para visitar os parentes do “sul” – era assim que ele se referia ao sudeste. Não tinha data e nem período certo de chegar. Simplesmente chegava! Ele e sua mala de couro – que eu achava enorme.

Não entendia direito. Mamãe dizia: “vovô Zé está chegando”. Eram dias de espera. Às vezes ele ia primeiro ao Rio visitar a prima Alaíde Pessoa; outras vezes passava antes em Friburgo para visitar meus avós. Ir visitar, para ele, era passar uns dias. Por isso ele demorava a chegar. Mas chegava. Sempre a pé – não “tumava” táxi. Braços fortes, andar nem tanto, chegava suado e secando-se com o lenço. Aqui ou na casa da praia.

Mala cheia de “lembrancinha” para todo mundo. Muitos presentes. Ele adorava presentear. Velhos de barro (artesanato do nordeste que mamãe adorava), redes grandes “de casal”, rendas, badulaques diversos. “Não bula nisso homem!” era o que eu ouvia mexendo curioso na mala. Após a distribuição de presentes ia logo inventando algo para fazer. Comprava molduras, pregos e azulejos e se punha a fazer bandejinhas para copos ou xícaras de café – para presentear outras pessoas ou as donas das casas que ele ainda iria visitar. Fazia muitas. Temos até hoje bandejas feitas por ele.

Vovô Zé também sabia dirigir. Embora ninguém lhe confiasse a direção, ele contava que já tinha sido caminhoneiro. Certa vez, indo para praia, nosso carro atolou na estrada de barro. Papai não conseguiu tirar o carro. Após muitas tentativas, Vovô Zé tomou a direção e tirou o carro do atoleiro. Mamãe contava o caso rindo orgulhosa e zombando de papai.

Mamãe tinha uma preocupação extra: controlar as investidas que o velho Zé Lopes dava nas empregadas. Ele ia para cozinha fazer doce de jaca – sua especialidade – e nessas horas a atenção era redobrada!

“Mas como assim vovô???!? O Sr. nasceu no século passado? É muito velho!”. Para mim o século passado era muito, muito, muito distante. Hoje, revirando minhas lembranças, me dei conta que agora sou eu que devo causar espanto. Nasci e vivi 37 anos no século passado e já passei por 13 anos no século atual. Que venha o 14º!

Tenham todos um belíssimo 2014!

24 dezembro, 2013

Brasileiro é otário?

RODRIGO CONSTANTINO

Sempre que vou aos Estados Unidos retorno com essa questão: somos um povo otário? Afinal, adoramos nos vangloriar de nossa “malandragem”, de nosso “jeitinho”, mas vivemos imersos em um mar de ineficiência, corrupção, carestia e criminalidade. Há malandro demais para otário de menos por aqui.

Os americanos são bobos, egoístas, uns capitalistas insensíveis. Mas vejam que coisa: os serviços básicos funcionam, as estradas são boas, quase todos possuem carros decentes, pelos quais pagaram um terço do valor que nós pagamos, e podem andar com vidros abertos e ter casas sem muros. Que otários!

Ainda bem que somos diferentes, desconfiamos do lucro, dos empresários, e delegamos ao papai Estado todo nosso destino. Temos agora até universidade marxista voltada exclusivamente para o trabalhador, para não deixá-lo “alienado”, e sim um camarada “politizado”, engajado na luta pela justiça social. Somos muito melhores!

Temos um governo metido nos piores escândalos de corrupção, mas ainda favorito para mais um mandato em 2014. A economia não cresce, paramos de gerar empregos, a inflação continua alta demais, cada vez mais gente depende de esmolas estatais, a carga tributária sobe sem parar, mas ninguém parece se importar. A Copa vem aí, e somos a pátria de chuteiras.

Após oito anos, os mensaleiros finalmente foram presos, mas ainda tentam vender a imagem de injustiçados. Um deles recebe amplo apoio dos artistas e “intelectuais” da esquerda caviar, pois teria um currículo louvável (comunista por acaso pode ter passado digno de aplausos?) e não teria roubado para si próprio. O outro se compara a Mandela.

E o PT faz evento oficial para defender os bandidos presos e atacar o STF, ao lado de uma presidente da República conivente, passiva, cúmplice. Alguém pode imaginar isso nos Estados Unidos? Claro que não. Eles não são tão compreensivos e cordiais como nós.

Estive em Miami e Orlando. Só brasileiro, nem preciso falar. Estamos por toda parte, comprando e comprando. “Consumistas burgueses”, diria um típico comuna. “Classe média fascista”, diria Marilena Chauí. Mas que mal há em desejar pagar um terço do preço que se paga no Brasil pelos mesmos produtos? Compram em Miami os que não são ricos a ponto de poder comprar no Brasil.

“Ah, mas é preciso financiar a justiça social”, alegam os esquerdistas. Ora, o governo americano é a polícia do mundo (felizmente), e nós precisamos de um governo ainda maior em termos relativos? Haja esmola, para pobre e para rico (BNDES).

Sem falar que, no Brasil, reina o culto do pobrismo. As esquerdas amam a miséria, não os pobres. E odeiam os ricos mais do que “amam” os necessitados. Não existem abutres sem carniça, não é mesmo?

O Brasil realmente testa nossa paciência. A impressão digital do governo inchado está em todas as cenas do crime, mas eis que boa parte da população pede, como solução para nossos males, mais governo! Seria cômico, não fosse trágico.

Mas é véspera de Natal, e não quero estragar a ocasião. Quero até aproveitar a oportunidade e fazer meus pedidos a Papai Noel. É verdade que ele tem toda pinta de marxista: usa roupa vermelha, distribui presentes pagos por terceiros, e coloca outros para fazer o trabalho pesado enquanto fica com a fama de bondoso. Não importa. Faço minha lista, na esperança de ser atendido:

1. Que o povo brasileiro possa acordar em 2014 e ter o bom senso de evitar um destino trágico como o da Argentina ou da Venezuela para nosso lindo país.

2. Que o funk não seja mais visto como “apenas” uma forma artística diferente, tão boa quanto música clássica ou ópera.

3. Que a doutrinação marxista nas nossas universidades chegue ao fim e que cada vez mais alunos e professores tenham a coragem de se rebelar contra tal covardia.

4. Que a hegemonia de esquerda na política nacional seja finalmente vencida e que algo NOVO possa surgir como alternativa.

5. Que esses ecochatos e politicamente corretos arrumem algum passatempo individual e nos deixem em paz para vivermos de acordo com nossas preferências pessoais.

6. Que todos aqueles que conseguem defender a ditadura cubana em pleno século 21 resolvam abandonar a hipocrisia e comprar uma passagem só de ida para a ilha-presídio caribenha.

7. Que os brasileiros passem a ler mais, de preferência bons livros.

8. Que todos aqueles que querem “salvar o mundo” antes arrumem o próprio quarto.

9. Que todos lembrem de que solidariedade é algo voluntário, não compulsório, via impostos dos outros.

10. Que nosso povo seja menos “malandro”, como os americanos.

Feliz Natal.

Brasileiro é otário? - Jornal O Globo

Papai Noel


(Athos Fernandes - Miscelânea Poética - 1979)

Papai Noel! Lindo sonho
de deslumbrante matiz.
Velho treteiro e bisonho
que vem de um frio país!

Ao rico atende, risonho,
mas nunca à pobreza quis.
Deixa um menino tristonho
e outro alegre e feliz!

Papai Noel, sempre injusto,
só traz presentes de custo
para os filhos da riqueza...
Quanto aos pobres não se importa!
- Sapatos rotos na porta,
pratos vazios na mesa!

http://www.athosfernandes.xpg.com.br/